terça-feira, 26 de maio de 2009

Dia 23 – 24/jan/2009

Depois de uma estressante noite em claro, por volta das 9 hs da manhã, sem resolver os problemas financeiros, partimos da movimentada Córdoba.

De Córdoba até nosso destino do dia, rodamos poucos mas cansativos kms. De poucos em poucos km parávamos para fumar um cigarro, tomar uma água e manter-nos acordados.




Nessa região da Argentina, passamos por muitas cidadezinhas que pareciam bem pequenas até que chegamos a San Justo. Oportuno nome.

Conseguimos um bom hotel de nome Califórnia e resolvemos enfim tomar uma gelada para acalmar os ânimos. Deixamos as bagagens no hotel e fomos percorrer a cidade e percebemos que era bem maior do que demonstrava os mapas e o GPS. Vale ressaltar que ao Sul da Argentina, a vida noturna é meio escassa, creio que devido ao frio, ao passo que na parte central e acredito que ao Norte, é mais parecido com o Brasil, com alguns bares com mesas e cadeiras nas calçadas.

Paramos em um Pub que estava mais movimentado e pedimos uma cerveja, que geralmente vem acompanhada de “papas fritas” (batatas fritas) e amendoins, como cortesia. Em pouco tempo, um dos argentinos que estava na mesa ao lado veio até nós para conversar. Ele disse que estava estudando História do Brasil e português, e até que enfim poderia aprender a falar português com alguém.

Em pouco tempo estavam nos convidando para ir à casa de um deles para comer um “asado”. Compramos os ingredientes e fomos para a casa de um deles.

Música, conversa, e a noite foi pequena. O Gú, a quem dei o apelido nesta festa de Consciência voltou ao hotel e eu, como não posso beber que me empolgo, fiquei na festa. E como só tinha homens, eu perguntava se era diferente do Brasil, porque no Brasil quando tem churrasco e cerveja, tem mulher também. Foi quando um deles falou: “Espera!”.

O Gú realmente foi embora e pouco tempo depois, quando findo o churrasco, chegaram 14 meninas, na faixa de 17 a 20 anos, maravilhosas, uma mais linda que a outra. Mas cabem considerações. Os argentinos, não “chegam” nas meninas, e elas ficam tranqüilas lá no canto delas.









E eu bebendo e me empolgando. Bebi mais algumas e conversei com um rapaz que eu chamei de “Carneiro” devido ao cabelo dele, me apresentou para todas elas.

E depois disso ainda me chamaram para uma boate de nome Tienda, onde eu prontamente atendi aos pedidos. Fomos para a boate e lá bebi mais e aproveitei para entrosar com todas as garotas. E lá o costume é beber CabernetCola (vinho com coca cola), mas eu preferi tomar só o vinho mesmo. Bom vinho. A festa pegando fogo e o que chamou agente para o churrasco era o DJ da festa, e vez ou outra soltava lá no palco: “Ahora una musica para nuestros amigos brasileños”. E tocava umas músicas antigas demais.

Saí da boate por volta das 5:30 com o dia já claro e a turma nos convidou para mais um churrasco.

Na parte da tarde, os argentinos da festa foram até o hotel onde estávamos e falaram que não conseguiram encontrar "cachaça", e se poderíamos fazer com vodca. E confirmaram a nossa presença na festa.





Conforme combinado, fomos novamente à festa e ficamos a cargo de fazer as caipirinhas... E os argentinos adoraram. A música da festa era comandada pelo dono da casa, que era também o DJ da boate da noite anterior.




O Gú foi embora cedo de novo, fazendo jus ao seu apelido de "Consciência" e eu fiquei na festa até pouco mais de 8 hs da manhã, passando mais uma noite bebendo e em claro.



Cheguei no hotel, depois de me perder pela cidade e descobrir pouco depois que a boate era na rua de trás do hotel, e encontrei com o Gú já pronto para seguir viajem, visto que o combinado era sairmos cedo. Tomei um café da manhã que estavam servindo no hotel e fui dormir, acordando poco depois, antes do vencimento da diária e preparando para sair ainda debaixo de chuva para o próximo destino.



Vale lembrar: Ainda neste dia, durante a viagem, passamos por uma imensa plantação de trigo, e com isso, inúmros pássaros voavam por sobre a estrada.

Pareciam pássaros suicidas, pois davam vôos rasantes por sobre a estrada e entremeio aos carros.

E foi num desses vôos, que acabei acertando um pássaro, quase do tamanho de um pombo. Ele explodiu no meu ombro esquerdo. Ainda vi ele caindo no asfalto e uma imensa quantidade de pena que voavam. Alguns km a frente e algumas horas depois ainda encontrava as penas do pássaro no meu bolso.

Passado o susto e até algumas risadas, mais pra frente eu vejo dois pássaros dando um rasante em frente à minha motoca, mas só notei que um atravessou pro outro lado. Dei uma olhada para baixo em direção à bota e reparei que ela estava com um pouco de sangue, assim como parte do motor. Parei e quando olhei pela frente, uma ararinha estava morta no protetor. Uma pena.

Km dia: 463 km

Dia 21 – 22/jan/2009 e Dia 22 – 23/jan/2009

Depois de acordar de uma noite bem dormida e acertar as contas no hotel, fomos informados de um destrato. A pessoa que nos atendera na noite anterior e disse que nos daria um troco ao pagamento da conta via cartão, não estava mais presente no hotel, e quem fez a cobrança, disse que não poderia fazer nada.




Resolvemos voltar até a loja onde fizemos a troca de óleo e pedimos ajuda. Passaríamos o cartão e ao invés de pegar mercadorias, pegaríamos alguma quantia em dinheiro. E fomos prontamente atendidos novamente pelo casal de proprietários.

Com um pouco de dinheiro no bolso, seguimos viagem.

Depois de mais um abastecimento, ainda em Santa Rosa e com tudo conspirando a nosso favor, seguimos com os termômetros acusando 36 graus já pelas 9 horas da manhã.

E qual não foi a surpresa quando aos 90 km rodados do dia, a 60 km da próxima cidade e passados uns 20 da última, o pneu de novo esvaziou completamente. E essa foi minha vez de ficar enfurecido. Depois de rodar 17.700 km com um pneu que nunca furou, desde que eu peguei a moto zero na loja até quando foi substituído por um novo, o novo pneu furou 3 vezes em menos de 450 km.



Parados no meio do nada de novo, resolvemos que o Gú ia voltar os 20 km para tentar acionar o meu seguro ou conseguir um guincho. Fiquei na beirada da pista esperando e pensando que ainda faltavam 480 km para chegar a Córdoba, onde pensava eu que as coisas poderiam melhorar devido ao porte da cidade.

Depois de um tempo sob o sol escaldante que devia beirar os 40 graus de novo, me desponta no horizonte uma D20 branca. Ela vem vagarosamente e encosta pouco depois de mim. Um senhor desce com uma garrafa d’água nas mãos e explica que na cidade não existe serviço de guincho e meu primo havia mandado que ele fosse me bucar. Então, com um pouco de destreza, colocamos a Drag na caçamba, subindo por uma tábua de pouco mais de 20 cm de largura e voltamos à cidade.


Pagamos meio caro pelo serviço e ele nos deixou por volta das 13:10 na borracharia mais recomendada da cidade, mas acontece que por estas bandas, tem a hora da cesta, que não é hora e sim horas. Das 13 às 16 horas, nada funciona. Resultado, ficamos em uma cidade parecendo cidade fantasma. Por sorte, se é que podemos considerar sorte, ao lado da borracharia tinha um posto com loja de conveniência, e podíamos fumar lá dentro da loja, mesmo com o ar condicionado ligado. Ainda tinha alguma coisa gelada pra tomar. Ótimo lugar para esperar 4 horas.

Por volta das 16:20, chegou o proprietário e, ao menos nos atendeu muito bem. Conversamos muito e ele arrumou os furos anteriores, dizendo que o ultimo borracheiro, para não correr o mesmo risco de “morder” a câmara de ar, exagerou no uso de vaselina para encaixar o pneu na roda. E a vaselina com o calor, fez com que os outros remendos desmanchassem.



Agora era seguir mais 480 km até Córdoba. Onde eu pensei que resolveríamos nossos problemas. Mas nada. Chegamos a Córdoba por volta das 3 da madrugada e ficamos vagabundeando nas ruas até as 8:30 da manhã quando um Banco Itaú prometia ser a solução dos problemas. O Gú entrou e conversou por muito tempo com o gerente e nada se resolveu.




Como tava tudo na mesma e já havíamos ficado a noite anterior sem dormir, rolou um pouco de estresse entre as partes. Cansados da noite passada em claro, seguimos viagem com mais paradas, e enfim chegamos em San Justo.

Km dia: 644,50

Dia 20 – 21/jan/2009





















Depois de levantarmos, arrumamos as motocas e partimos de Chacharramendi. Um abastecimento a pouco mais de 150 km depois e alcançamos Santa Rosa, na Minicipalidad de Las Pampas.

Bela cidade, porém muito quente. Beirando os 40 graus. Paramos no centro da cidade para tentar sacar dinheiro novamente.




Um banco, dois, três e nada. Enquanto parados na rua, apareceu um casal que era da TV local nos convidando para participar de um programa ao vivo de entrevista. Dissemos que tentaríamos resolver os problemas com o cartão primeiro e se tudo corresse bem, iríamos ao programa.

Um funcionário da prefeitura que auxilia no estacionamento nas ruas, presenciando nossa dificuldade, nos passou seu telefone e de sua namorada. Ofereceu-nos um quarto em seu apartamento e ajuda no que precisássemos.



Como nos bancos nos pediram para voltar mais tarde, devido a “ciesta”, resolvemos dar uma volta pela cidade para trocar o óleo da moto do Gú. Encontramos uma loja de uma família, descendente de italianos. Fomos muito bem atendidos e recebidos. Fizemos a troca de óleo. Efetuamos o pagamento com o cartão, já que conseguíamos pagar as contas no cartão do Gú (o único que funcionava), mas não conseguíamos sacar dinheiro.

Óleo trocado e fomos atrás de um hotel. E que sorte, enfim alguma sorte. Encontramos um ótimo hotel com internet no quarto via Wi-Fi e ar condicionado.


No meio da tarde fomos a um Supermercado Carrefour, a duas ruas do hotel para conseguir alguma coisa para comer.





Voltamos, comemos, fizemos contato via internet com o Brasil e ficamos no quarto por todo o fim da tarde descansando, aproveitando o ar condicionado. Foi uma pena o Gú não ter animado de ir ao programa de TV. E sozinho eu tb desanimei.

Descansamos muito e dormimos.

Km dia: 218,90

Dia 19 – 20/jan/2009






















Levantamos cedo para encontrar um pneu para a Drag, visto que o pneu já estava nas últimas condições. Depois de um pouco procurar, encontramos um pneu igual ao original, mesma marca, e “made in brazil”, e o melhor, quase a metade do preço que seria pra comprar aqui no Brasil. Compramos e fomos indicados para onde seria um bom lugar para trocar o pneu.







Chegamos à tal “gomeria” (borracharia) e o chefe do local não sabia como retirar a roda para efetuar a troca do pneu, então, só restou a nós mesmo meter a mão na massa. Com alguma dificuldade, sacamos a roda, juntamente com freio e diferencial. Só restou ao rapaz trocar os pneus. Serviço feito, montamos tudo no lugar e seguimos viagem.

Pouco mais de 35 km depois de sair de Neuquen e região metropolitana, paramos em um lugar que parecia ser abandonado, para descançar um pouco e tomar uma água, pois o calor estava infernal. Saímos desse lugar e quase 500 metros depois o pneu esvaziou todo. Ficamos parados naquele sol, perto de uma estrada sem movimento.






Havíamos saído de Neuquen a pouco mais de 35 km e ainda faltavam pelo menos 80 km para o próximo abastecimento. A saída foi esperar. E essa espera parece ter esgotado a paciência do Gú.

Depois de umas 2 horas esperando sob o sol quente, de mais de 35 graus, passa um caminhão plataforma, ou guincho, para quem o Gú acena e o motorista para pouco mais pra frente e dá a volta. Ficamos combinados que eu voltaria para Neuquen para arrumar o pneu e o Gú seguiria para o próximo posto, para evitar andar 60 km de novo.

O Gú foi pra um lado e eu segui no caminhão para o outro lado, rumo a Neuquen, até a primeira borracharia, que o argentino do caminhão disse ser boa. Descemos a moto, o caminhão partiu e eu pedi uma garrafa de água enquanto o borracheiro mexia na moto. Quando me dei conta ele havia quase espanado as cabeças dos parafusos, com duas chaves de cano, tentando sacar a roda. E quando viu que não conseguiria, e depois de muito discutirmos, ele resolveu sacar a câmara de ar sem tirar o pneu do lugar.

Retirada a câmara de ar, foi constatado que o outro borracheiro, ao montar o pneu, havia “mordido” a câmara de ar.

Reparo feito, tudo montado e conferido, peguei estrada novamente. E qual não foi minha surpresa ao passar novamente pelo mesmo local, a uns 35 km da saída de Neuquen, notei que a motoca balançava um pouco mais do que o normal. E quando parei, notei que o pneu estava murchando de novo. No mesmo local, longe de tudo de novo.

Não acreditando na situação, que me lembrava um filme de terror, atravessei a Ruta com o pneu nas últimas de ar e fui de encontro a um caminhoneiro que estava com seu caminhão encostado neste local que parecia abandonado e pedi um pouco de ar. Solicitação que foi atendida prontamente. E o caminhoneiro ainda me recomendou que voltasse a Neuquen, que era mais próximo local para conseguir ajuda. Mas eu preferi não voltar mais a Neuquen, e segui viagem. E foi assim por alguns longos 80 kms, e por sorte, eu sempre encontrava na estrada deserta, com alguns caminhões encostados, onde eu pedia ar de novo e eles me recomendavam voltar para Neuquen. Segui.

Depois de mais alguns km cheguei ao primeiro posto, onde o Gú estava, e rolou mais extresse. No posto havia outra borracharia, onde reparamos novamente o pneu, e ficou constatado novamente o mesmo erro, ao montar a roda, o borracheiro cometera o mesmo erro do primeiro, “mordeu” a câmara de ar, fazendo com que perdesse ar.

Tudo arrumado de novo. Mais horas perdidas. Resolvemos seguir viagem para a próxima cidade, mesmo com a chegada da noite. Depois de um pouco de estradas ao anoitecer, nos deparamos com a Ruta 20, uma estrada de mais ou menos 180 km, com pouquíssimas curvas e alto índice de acidentes, embora também seja um pouco deserta. Consta na entrada desta estrada “La Conquista Del Desierto”, e muitas placas de aviso e cuidado sobre os perigos de dormir ao volante.

Andávamos por muito tempo, a noite, sem cruzar com qualquer coisa viva, era só estrada reta, noite e nós. Vez ou outra deparamos com uma luz vindo ao longe, muito longe mesmo, e depois de muito tempo, cruzávamos com um carro ou caminhão. Lindo.





Mais um abastecimento em uma cidade perdida no meio do deserto, de nome La Reforma, e seguimos rumo a RP 20. Mais alguns km de deserto a noite e muito cansaço, encontramos um hotel, cheio ainda, na saída do deserto, embora ainda muito distante da próxima cidade.





Conversamos um pouco, ficamos sabendo do risco que estávamos correndo de andar durante a noite de moto no deserto, devido aos animais silvestres grandes como pacas, tatu e algumas lebres que costuma atravessar a pista assustados com a luminosidade dos faróis.
Por isso resolvemos não seguir mais viagem e esperar no hotel pelo clarear do dia, mesmo que não houvesse camas disponíveis. E, pra nossa surpresa, o gerente nos ofereceu, depois de um pouco de nossa espera, dois colchões e um ventilador, na dispensa, o que, a uma hora daquelas, era algo irrecusável.

Adormecemos ali mesmo, e o gerente nos acordou, conforme combinado, por volta das 6:00 da manhã para que seguíssemos viagem. O lugar do Hotel é Chacharramendi.



Km dia: 395,30

Dia 18 – 19/jan/2009

Passamos parte da manhã no hotel e depois no centro da cidade.

Tomamos algumas cervejas e alguns tira gosto, enquanto esperávamos para ver se eu e o Gustavo conseguíamos liberar os cartões que, no caso do Gú, parou de fazer saques, e no meu caso, estava inabilitado para saques no exterior (vacilo meu).













Por volta das 16:00 e como não havíamos resolvido nada, pegamos estrada rumo a Neuquen.






Caminho tranqüilo, a não ser por descobrir o motivo da trepidação em minha moto. O pneu traseiro já havia chegado no arame. Em Bariloche ele não estava tão ruim, mas acho que o calor que pegamos depois fez o pneu acabar de acabar (hehe).







O objetivo era chegar a Neuquen por esta ser uma cidade grande, onde a possibilidade de encontrar um pneu seria maior. E foi o que fizemos. Com um pouco de cautela, chegamos na cidade e em uma volta pelo centro, descobrimos que os hotéis eram caros, e devido às nossas condições financeiras, seria meio complicado.

Pegamos a rodovia e encontramos pouco mais na frente uma pensão, chamada Hotel Inglês. Simples, mas tranqüila. E pra melhorar, do outro lado da rodovia tinha um McDonalds.



Fizemos um “McJantar” caprichado e fomos dormir porque pela manha teríamos que encontrar um pneu, reparar as motos e seguir viagem.

Interessante notar que, a 420 km sentido sul, de onde vínhamos, em Bariloche, o frio era muito, ao passo que em Neuquen, o calor estava beirando o insuportável.

Km dia: 431,50